20 junho, 2006

Quanto vales?

Ultimamente, tenho tido bastantes conversas acerca do tema "ir às meninas" (eufemismo utilizado para prostituição, como bem sabem).
Tudo começou numa visita à "Red Light" em Amsterdão, onde assisti a um espectáculo, no mínimo, bizarro no entanto interessante do ponto de vista cultural. Mas que dá que pensar. Refiro-me às sobejamente conhecidas meninas que estão nas montras, tal qual um produto comercial, mostrando os seus atributos aos potenciais clientes.
Como disse, uma visita interessante do ponto de vista cultural. É, de facto, uma realidade completamente diferente da nossa. Se, em Lisboa, quiser assistir a um "espectáculo" do mesmo género, terei de me deslocar as 3h da manhã às ruas circundantes ao Instituto Superior Técnico.
Mas, não obstante esta diferença, o espectáculo é degradante da mesma maneira.
Não vou abordar este tema da perspectiva de quem se prostitui, porque todos sabem que a maior parte das meninas que o fazem são vítimas de tráfico sexual e as que não o são, não têm certamente prazer nenhum naquilo que fazem. Não podemos julgar quem o faz, porque nunca sabemos as circunstâncias que a levaram a tal situação. Claro que poderemos dizer, e com isso concordo, que há outras alternativas, outros trabalhos, outras formas. Mas, felizmente, nunca me vi numa situação de desespero extrema cuja única saída seja uma que vá contra os meus princípios, por isso não poderei afirmar nunca categoricamente que estas pessoas chegaram a esta vida de prostituição por conforto. A boa notícia é que há uma saída.
Mas só haverá uma saída se as mentalidades mudarem...
E é dessa perspectiva que quero abordar este tema.
Partindo do pressuposto (julgo que correcto) que há mais prostituição no género feminino e que os principais clientes são do sexo masculino, referir-me-ei aos clientes como "os homens", correndo o risco de entrar em esterotipos e, confesso, alguns preconceitos.
Os homens continuam a desconsiderar estas mulheres como pessoas, seres humanos com direitos. O facto é que mesmo que a mulher esteja ali pronta para se trocar por dinheiro, deveria haver uma luzinha qualquer na mente do "cliente" que se acendesse, assim uma luzinha vermelha, a que normalmente damos o nome de moral. Será que não percebem que se está a "desdignificar" uma pessoa? Que se está a "objectificar" uma pessoa? Uma pessoa com tanta dignidade quanto eu, tu, qualquer um de nós?
Falta nos princípios, falta na moral, falta na consciência, a ideia de que a prostituição é, de facto, pagares por uma pessoa. Já nem falo do facto da maioria destas mulheres serem vítimas de redes de tráfico humano, ou seja, nessa perspectiva, está-se mesmo a compactuar com um crime que hoje em dia gere mais dinheiro do que o tráfico de droga.
Não estou a julgar quem vai "às meninas", embora pareça. Só quero mostrar a minha indignação quando penso que há pessoas que efectivamente pensam que não tem nada de mal ir "às meninas".
Esta é só mais uma manifestação da falta de valores e de princípios que parece reger a nossa sociedade nos dias que correm.
Claro que dizem que a prostituição é a profissão mais velha do mundo, sempre haverá prostitutas e quem vá às prostitutas. Mas... como se diz em inglês "shouldn't we know better now"??? Estamos sempre a crescer em valores, ou não? Embora muito aponte no sentido contrário, quero pensar que as mentalidades evoluíram desde a Idade da Pedra.
Por fim, deixo-vos um clip muito interessante da MTV contra o tráfico sexual a que se assiste agora mesmo durante o Mundial da Alemanha... vejam porque vale a pena.
http://comps.mtv.co.uk/comps/streaker/site.jhtml?country_id=pt

05 junho, 2006

Fast Food & Fast Love

Ultimamente tenho ido comer a restaurantes de fast food.
Toda a gente conhece o conceito, já toda a gente provou.
Reconduz-se basicamente a comida altamente calórica, gordurosa, perigosa e, tal como indica a definição, de rápida confecção, ingestão e digestão. Tudo muito fast, como parece obrigar a nossa sociedade. É também chamada de comida de plástico, devido a ser alterada por uma série de químicos, corantes e conservantes que a tornam viciante por conter substâncias que supostamente aumentam a boa-disposição, como açúcares.. Temos assim algo muito muito rápido e muito muito falso. A rapidez, aliada a preços muito acessíveis e ao facto desta comida ser viciante, faz com que cada vez mais pessoas comam cada vez mais vezes por semana em cadeias de restaurantes fast food.
Este conceito actualmente tão empregnado no nosso léxico, está a saltar para outras áreas da vida, que não apenas a gastronómica.
Nomeadamente para a área sentimental.
Poder-se-á falar de um fast love?
As relações de hoje em dia, ou pelo menos a maior parte delas, consomem-se com um apetite voraz e acabam rapidamente. Surgem também rapidamente, do nada, há um apressar dos acontecimentos, de todos os momentos, mal se começou já se está a acabar. O clímax da relação é atingido, e tem de ser atingido, por volta dos 2/3 meses, porque aos 5 meses já as coisas estão no fim e já nada é um mar de rosas.
São relações que parecem perfeitas, tal como um Super McMenu Big Mac com Coca-Cola acabado de entregar pelo brasileiro da caixa 5 do Mac do Colombo (pura ficção, qualquer semelhança com a realidade... é pura coincidência). Mas há que ver que esta comida veio da pressa e da impaciência... onde está o menu na mão durante 10 minutos, que lemos atentamente até podermos decidir o que queremos? Ou onde estão as horas e dias ganhos a conhecer uma pessoa até decidirmos que é com ela que queremos iniciar uma relação?
Depois levamos o tabuleiro para uma mesa. É logo a primeira que encontramos, para ser rápido e para acabarmos rapidamente com a água na boca que o menu já nos provocou (o malandro!!). E escolher uma mesa especial, sermos servidos, com calma? Ou que tal escolher um sítio especial para levar a tal pessoa, preparar uma surpresa, entrar no mais antigo jogo da conquista, da sedução?
Finalmente, inicia-se a refeição. Prazeirosa, no entanto, rápida. Muito rápida. Quase nem deu para tomarmos o gosto das batatas, porque logo depois veio a coca-cola e uma dentada no hamburguer. Quando demos por nós, já acabou. E as refeições que demoram horas e está a ser tão bom que tentas não comer muito para não estragar a boa sensação que ficou das dentadas que já deste? Ou que é feito dos actos de intimidade feitos com verdadeiro amor? Sejam eles beijos ou sexo... que é feito da certeza que esses são momentos únicos, para serem saboreados, apreciados, valorizados...?
No fim, pegamos no tabuleiros e fora com o lixo. E colocar os talheres à direita do prato, em sinal que a refeição acabou, e levantar a mesa, apanhar o lixo e lavar para que tudo fique arrumado? E ter uma conversa com a pessoa a explicar que as coisas não vão bem, que secalhar o melhor é acabar, mas sempre com respeito de parte a parte? E saber curar as mágoas da separação sem tentar tapá-las e fugir delas?
Hoje há muito disto. Há muita fast food e muito fast love. Talvez porque as pessoas não têm tempo nem paciência para esperar por uma boa refeição e por uma boa relação. Talvez porque já tenham perdido a esperança. Talvez porque seja mais fácil, mais cómodo, mais seguro.
Disse a mãe de um amigo meu que se sabe que uma relação vai realmente durar muito tempo se os primeiros 3 anos forem um mar de rosas. O problema é que actualmente, encurtamos este prazo e achamos que o normal é o mar de rosas durar 2/3 meses e então depois começarem as discussões e os problemas. Somos nós próprios que apressamos as coisas, para o bem e para o mal. Isto do fast love parece ser cada vez mais uma realidade que integra, pelo menos, o nosso inconsciente.
Há excepções, é certo. Óbvio que há relações que não são assim, há pessoas que não são assim e ainda bem que assim acontece.
E será que isto do fast love nos deve assustar? Não sei... por um lado, sinto-me tentada a dizer que sim, porque não acredito em relações construídas em areia, ou seja, sem uma base sólida onde se possam assentar os alicerces de algo já grande com tendências para se expandir, pois para mim as relações devem estar em constante "expansão para dentro" (espécie de um contínuo aprofundamento e cumplicidade entre os dois). Mas por outro lado, há o argumento de "a vida é demasiado curta"... porquê investir tanto em algo que pode não resultar? Não será um desperdício de tempo? Bem, tudo depende do que quiseres para a tua vida e para a tua formação como pessoa...
Pela minha parte, continuo a preferir slow love...

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