07 janeiro, 2007
Check-up
Lembro-me de quando tudo fluía com naturalidade. Era simplesmente paz. Assim, como a vida deve ser. Quando a busca de mim estava perto de terminar. Faltavam assim uns dois ou três anos. Já estava tudo planeado. Tudo certinho, as ideias todas bem no lugar, a pirâmide toda escalonada, organizada, perfeita. Conhecia-me melhor que nunca. Na verdade, apesar de me faltar muita coisa, não me faltava nada. Não estou (mesmo!) a mentir.
Agora tudo é uma bola gigante a rodar a uma velocidade estonteante. As ideias estão todas lá dentro, rebolam e ora é uma, ora é outra. Eu sei quais são, eu conheço-as todinhas, sei as que estavam no topo e as que estavam na base da tal pirâmide. Agora, é tudo uma bola gigante a rodar a uma velocidade estonteante. Elas confundem-se, confundindo-me.
Recorro então ao instinto para gerir tudo isto; pondo de lado o meu eu que era totalmente racional. A bola gira tão depressa dentro e fora de mim, que nem eu consigo acompanhá-la. Tomo um atalho, que não queria tomar, mas a vida é mesmo assim, não podemos parar.
Mas depois vêm as remeniscências daquilo que outrora fui, e sei que dentro de mim ainda sou. Confundo-me. Confundo-te. Afinal sou ou que sou agora, ou o que sempre fui? Será que posso escolher quem sou, ou essa decisão já está tomada há muito tempo? Será que estou neste preciso momento a escolher quem sou, sem dar conta?
Antes não era assim. Antes era tudo tão claro, eu conseguia ver o futuro! A sério, conseguia mesmo! Sentia-me a mudar, ouvia-me crescer...
Algo me detém? Se sim, o quê? Não faz sentido, porque todas as minhas decisões foram conscientes... Então, bolas, não faz sentido! Porque me permito a mim mesma ser menos do que já fui? Parece mesmo que sou muito mais agora, não parece?... Mas não sinto isso. É tão, mas tão irónico...
Nunca procurei apoio senão em mim. And I did I pretty good job. Grande asneira, dirão. Mas acreditem, não há juízo mais crítico que aquele que faço comigo mesma. Isso é mau. É? Mas se esse juízo também é o mais encorajador, construtivo, realista... Olhem, não sei. Defeito ou virtude, era assim. E eu sentia-me bem.
Sinto agora necessidade de procurar apoio em ti. Expresso mais as minhas necessidades, as minhas inquietações, os meus medos. Acredita, é uma grande responsabilidade seres o meu próprio sucessor. Será que consegues estar à altura? Será que consegues fazer um trabalho tão bom como eu fazia? Não consigo dar resposta a isto e isso assusta-me. Não podia nunca ter delegado essa responsabilidade em ti sem ter a certeza que eras melhor que eu. Que insensatez... Confundi certezas, confundi tudo. Podes-me dar muita coisa, mas nunca podia ter abdicado dessa parte de mim. Agora, como me encontrar de novo? E será que isso é assim tão importante, na verdade?...
A bola vai ter de parar e lentamente transformar-se de novo em pirâmide. Acho que isso não vai demorar muito a acontecer.
E eu?